POLÍTICA DE CORDEL
O que tinha esse povo
Dentro de cada cabeça
Encher de vermes a república
Deixar que ela apodreça
PÁTRIA AMADA E IDOLATRADA
Salve, salve-se quem puder
A pátria foi assaltada
Não vê isso quem não quer
Um príncipe ergueu a espada
Gritou por independência
Já quase duzentos anos
Independência de nada
Luiz Inácio do Sertão
Que aqui era o camarada
Obama disse "é o cara"
Aqui disseram é ladrão
Só por ter dado ao pobre
Acesso a ganho e pão
Não entendem que mais pobre
São os que nega o pão
Quem quer partilha descobre
Que é comunista ou ladrão
Difícil mostrar ao nobre
Que o princípio é cristão
Uns tem coração de ouro
Outros de cobre ou latão
Depende a composição
Tem ferrugem e corrosão
Tem coração que é só banhado
É pura bijuteria
O dia que é apanhado
Desculpa-se "não sabia"
São quase duzentos anos
O pobre esperando o dia
No presente a escuridão
No futuro a utopia
Foi sempre uma escravidão
Nunca houve uma alforria
Os custos da senzala
Pesava na produção
O salário compensava
Esse custo do patrão
O pobre foi enganado
Por essa inovação
Trabalha e ganha dinheiro
É por conta a sustentação
Se esforça porque é "livre"
Sem entender a razão
Que o salário é o mesmo custo
De manter a escravidão
Quem é livre faz seu preço
E quem faz isso é o patrão
Mas livre logo me esqueço
Se já fui da escravidão
Vou logo metendo o preço
Quero ser sempre patrão
Ter o lucro que eu mereço
Vivendo da exploração
Um dia quem sabe um dia
Tudo será diferente
Duzentos anos a mais
Talvez outro presidente
Nem que seja outro ladrão
A dar ao pobre o que é bom
Esperança não se perde
Se perdura pelos séculos
Enquanto a política fede
Deixa os presentes incrédulos
Tudo é interesse próprio
Para o bem particular
No amor declarado à pátria
A intenção de roubar
Do pobre nenhuma dó
O que é bom é dado aos poucos
O que é ruim de uma vez só
Tem trabalhador pensando
Que é empresário e doutor
Só por ter uma lojinha
Uma oficina, um motor
Pensa que é capitalista
Com o dinheiro emprestado
Vive pagando juros e aluguel o coitado
O risco é social, precisa ser evitado
Cultura e educação é um perigo danado
Para manter a escravidão
O escravo é conformado
Não pode ter consciência
De que está sendo explorado
Se assim tiver vai ficando
Cada vez mais revoltado
Precisa viver pensando
Que ele está sendo ajudado
Faz tudo para o patrão
Fica devendo favor
Como se o trabalho dado
Fosse um gesto de amor.
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